quinta-feira, 24 de abril de 2008

"O Futuro da Humanidade"

Ele falava com Deus como se fosse seu amigo.
- Ei! Quem é você que está por trás da cortina das nuvens? Por que você se esconde através do véu da existência? Por que silencia sua voz e grita através dos fenômenos da natureza? Por que gosta de se ocultar aos olhos humanos? Sou uma ínfima parte do universo, mas clamo por uma resposta. Deixe-me descobri-lo.
Marco Polo ficou espantado com esse diálogo singular. Entretanto, mostrando um ar de intelectual, virou-se orgulhosamente para o amigo e disse:
- Falcão, Deus não existe. Ele é uma invenção espetacular do cérebro humano para suportar as limitações da vida. Desculpe-me, mas, para mim, a ciência é o deus do ser humano.
Numa reação surpreendente, Falcão se levantou. Subiu em cima do banco da praça e começou a chamar aos gritos todos que por ali passavam. Com gestos histriônicos, bradava:
- Venham! Aproximem-se! Vou mostrar-lhes Deus!
(...)
- Deus está aqui! Acreditem! Vocês ficarão perplexos ao vê-lo!
Num instante, reuniu um grupo.
(...)
De repente, Falcão silenciou. Apontou as duas mãos para Marco Pólo e disse aos altos brados:
- Eis Deus em carne e osso! (...) Acreditem, esse jovem é Deus! Por que lhes afirmo isso? Porque ele acabou de dizer que Deus não existe, que é um mero fruto do nosso cérebro! Vejam só! Se este jovem não conheceu os inumeráveis fenômenos de tempos passados, se ele nunca percorreu as bilhões de galáxias com seus trilhões de segredos, se ele não desvendou como ele mesmo consegue entrar em seu cérebro e construir seus complexos pensamentos, e, apesar de todas essas limitações, ele afirma que Deus não existe, a conclusão a que cheguei, meus amigos, é que esse jovem tem de ser Deus! Porque só Deus pode ter tal convicção!
(...)
Falcão desceu do banco e sentou-se:
- Sabe que sabor tem este sanduíche?
Marco Polo, envergonhado, maneou a cabeça dizendo que não.
- Se você não tem segurança para falar de algo tão próximo e visível, não fale convictamente sobre algo tão distante e inatingível. Não é sensato.



(Augusto Cury; O Futuro da Humanidade; Pg 76-77)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Gordura trans no cérebro



Quem você pensa que é? Digo-lhe que não é muita coisa. Um mero pedaço de ser, um bocado de pele encobrindo órgãos horrendos. Responda-me: Alguém, por Deus, acha o coração bonito? Eu não acredito que nós, seres tão superiores e dotados de vasta experiência, tenhamos que nos contentar com órgãos tão feios e mal formados.
Não me diga que seu intestino é mais bonito que o meu! Acho que eles estão empatados. Por conseguinte, não venha me dizer o quão você é bonito por dentro. Eu não sou bonito. Sou um amontoado de ossos e líquidos malucos trabalhando por ordens de uma orgia de minhocas. Nosso cérebro é uma orgia de minhocas. E é tão insano pensar nele... O cérebro pensando sobre o próprio cérebro – magnífico! Meu cérebro parece mais um intestino, você não acha? E se o intestino fosse nosso cérebro, e este por sua vez nosso intestino?
Engraçado. Nosso cérebro processa merda. Enquanto isso, pensamos com nossa barriga. Agora entendi tudo! O segredo da vida foi desvendado! Estamos invertidos, pessoal! O ser humano é doente! Agora tenho motivos suficientes para festejar a morte!
Enquanto vocês matam inocentes, torturam crianças, dormem com dor de cabeça e não passam gordura trans no pão, eu coloco minha cabeça debaixo da terra. Não que eu a queira esconder, apenas necessito de uma autocura para essa prisão de ventre. Minha cabeça está presa! Preciso colocar todo esse estrume para fora!
Nossos intestinos são iguais, a diferença é que eu pretendo colocar para fora do meu o que está entalado e faz mal. E você? Vai ficar aí parado pensando com a barriga ou vai fazer algo? Viva a gordura trans cerebral!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Caixa de supermercado

O caixa saiu do supermercado no fim da tarde e tirou do bolso uma aliança. Ele iria propor em casamento a sua namorada, no restaurante que havia combinado. Quando dobrou uma esquina, levou um tiro e morreu.
Seus amigos e familiares choraram no funeral.
Sua namorada se casou três anos depois.
Após trinta anos, ninguém mais sabia quem fora aquele homem.

Só restaram registros.